05/09/2018

MELIDES

NUMA NOTA DIFERENTE               .
 .
O jovem 'Senhor da farmácia' e eu conhecemo-nos há uns anos, mas nunca nos tínhamos encontrado fora do perímetro da dita. Atencioso, cuidadoso e eficaz, foi-me sempre uma pessoa simpática. No mês de agosto, num jantar ainda com netos e filha, fomos à Tia Rosa e ele lá estava, "a dar uma mãozinha" naqueles dias em que todas as mesas estavam cheias na sala ou na esplanada e havia sempre gente à espera.
Entre sorrisos, a explicação: tinham-no desafiado, é amigo de infância de um dos donos, não tem família à espera quando fecha a farmácia, que lhe apeteceu ver se seria capaz.
Sem o balcão da farmácia entre nós, a conversa soltou-se em brincadeiras sucessivas. Tinha que escrever tudo, que os pedidos não vinham com os nomes dos princípios ativos que tão bem conhecia; que as pessoas saudáveis eram mais complicadas do que as doentes e  raramente aceitavam genéricos, nem mesmo o vinho da casa, um genérico de qualidade certificada; que os medicamentos se tomam sempre da mesma maneira, em piada para os meus netos e os seus inevitáveis bitoques: dois grelhados um frito, dois com salada, um só com batatas, outro sem batatas...
Ontem voltei à farmácia e fui recebida como uma amiga de longa data. Saindo detrás do balcão, veio cumprimentar-me, "então como está?", "vem cá passar o mês de setembro?", "ah! Vão viajar, que bom!".
Só me dei conta que o jovem "Senhor da farmácia", de quem ainda não sei o nome (que vergonha, ele já sabe o meu!), tem um olhar doce e um sorriso bonito, quando na Tia Rosa a minha filha mo disse. Mas ontem teria sido impossível não ter reparado nele, na afabilidade com que fui tratada.
Um balcão de atendimento distancia-nos bem mais de quem nos atende do que a sua simples largura.
.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário